Devo
confessar que me sinto um pouco desconfortável falando sobre o Iron Maiden.
Duas situações me levam a isso, a primeira é que conheço pouco de música. Não
da história, mas dos acordes. Portanto, falar sobre técnica, riffs, graves e
agudos; cowbell é um grande enigma para mim. Outra coisa, falar de uma banda
que eu escuto há mais de trinta anos, mais difícil ainda. Tudo soa como
blasfêmia, de quem perdeu o respeito aos mais velhos. Mas vou anotando, dizendo
aquilo que penso, como se libertário fosse. Eis que estou aqui, com mais um álbum
completo, diretamente aos ouvidos, existindo por nós, os fãs: The Book of Souls – Iron Maiden.
Acho que o
fã é um estereotipo incompreensível. Todos os tipos e de todos os modos. Fã do
Iron Maiden não gosta de levar desaforo, mesmo quando a banda faz algo errado.
Foi assim que eu me senti quando ouvi os piores álbuns da banda, tentando achar
ali alguma coisa que salvasse a reputação de ser fã. É claro que a idade nos dá
uma clareza estranha, até mesmo quando o subjetivo parece dominar todo o
parecer. Pensando em tudo isso, decidi refletir sobre Iron Maiden. Sem medo de
dizer a verdade, pelo menos a minha verdade.
Assim,
posso afirmar a existência de cinco fases do Iron Maiden. E esse disco, lançado
agora mesmo, The Book of Souls, faz
jus de forma magnifica a última Era, que começa com o retorno de Bruce
Dickinson aos vocais, em 2000. Fase I (1980-1981), Fase II (1982-1988), Fase III
(1990-1992), Fase IV (1995-1998) e Fase V (2000 – Atual). A decisão de detalhar
as fases é uma forma de passar uma informação importante: Estamos há 15 anos na
fase do Iron Maiden e seu relacionamento conturbado entre Hard Rock, Heavy
Metal e Prog Metal.
Se eu não
me engano, poucas resenhas tratam o novo álbum sem compará-lo com a segunda
fase, a mais grandiosa e certeira da banda. Poucas resenhas tentam desvincular
o Iron Maiden II (De 1982 até 1988 - E lá se vão quase trinta anos). Por isso,
resolvi escrever sobre o álbum, pois ele me pareceu o clímax da quinta fase, onde
músicas longas são apresentadas, mas sem serem cansativas; onde o hard rock é
apresentado, sem parecer tão comercial; onde o Heavy Metal é tocado, sem
parecer nostálgico. Um amadurecimento dos seus membros, evidente. O romance com
o rock progressivo, que teve seu namoro com o Seventh Sono f a Seventh Son, pode ser colocado a sociedade, sem
medo de críticas e arrependimentos. O Iron Maiden não é mais a banda que tinha
suas características no punk, heavy metal tradicional inglês e uma
agressividade pungente. A banda agora é aquilo que há de melhor para o Heavy Maiden.
Absolutamente um estilo único.
E já que
falamos em fases, nada melhor que localizar o álbum exatamente em sua Era, que
se inicia com Brave New World (2000), o menos experimental deles; até o The Final Frontier (2010). E nessa
comparação não há menor sombra de dúvidas que The Book of Souls é o melhor álbum de todos. Não sei qual a
motivação individual, mas a verdade é que vemos todos os integrantes em sua
melhor apresentação. Poucas músicas, desde então, me fizeram prestar atenção
nos instrumentos de forma isolada, apreciando cada passagem de cada músico.
Poucos álbuns, dentro da nova fase, me trouxeram o prazer de escutar um álbum
mais de uma vez, trazendo à tona nostalgia de grandes grupos, não apenas do
Iron Maiden. Vi Black Sabbath, Deep Purple, só para ter uma ideia. Mas antes de
tudo, ouvi Iron Maiden em sua nova fase, definitiva em sua quinta geração de
álbuns. Devo pensar que, como fã, estou exagerando um tanto; mas qual é o
problema, todos os fãs são um tanto exagerados.
As
primeiras informações que surgiram sobre o novo álbum eram antagônicas. Ao
mesmo tempo em que se ouvia que o Iron Maiden apresentaria músicas longas num
inusitado CD duplo, surgia a notícia sobre a doença do vocalista. Bruce
Dickinson tratando um câncer na garganta. Era de se esperar que os vocais
fossem menos exigidos (embora tenha descoberto a doença posteriormente);
trazendo para o álbum as famosas e terríveis introduções dos últimos álbuns. Cansativas
e desnecessárias. Neste álbum, boa parte das músicas possuem essas introduções,
mas longe de serem detestáveis. A base do Iron Maiden enfim estava evidenciada:
Bruce Dickinson numa fase esplêndida, Nicko McBrain aparecendo muito, Steve
Harris galopando, Guitarras certeiras e melodiosas. Tudo muito bem feito.
Músicas longas, mas música muito bem executada. Por isso eu afirmo, o novo
álbum não serve para quem tem pressa. Não serve para serem escutadas no carro,
indo para o trabalho. Não serve para quem tem hora marcada.
O álbum
começa com uma música de pouco mais de oito minutos: “If Eternity Should Fail”.
Diferente dos outros álbuns, em que a primeira música era agressiva e rápida,
esta começa com uma introdução que lembra algo tribal, com Bruce Dickinson
cantando sem nenhum instrumento. Quando a banda inteira aparece, eis que temos
Iron Maiden em sua maneira mais clássica. Considero uma das melhores músicas.
Riffs poderosos e um refrão característico. Música caberia na segunda fase, em
qualquer álbum. Não faria feio na Fase de Ouro. Nota 10.
A segunda
música é “Speed of Light” – Escolhida para ser o single, inclusive sendo
liberada pela banda num clique muito interessante sobre os games da década de
80. A música é direta, rápida e o tipo de música, que em outros álbuns, seria a
primeira a ser tocada. Curiosamente é a música que eu menos me identifiquei, embora
muito interessante. Nota 8,5.
“The Great
Unknow” – Marca evidente da quinta fase da banda.
Poderia ser colocada em qualquer álbum de 2000 para cá. Embora de qualidade
muito superior. Enquanto as duas primeiras músicas mostram a participação dos
membros do Iron Maiden, esta parece ser uma composição exclusiva do patrono,
Steve Harris. A cara desse novo Iron Maiden, prog metal, introduções e afins.
Se vocês não gostam dos últimos álbuns devem estar torcendo o nariz para a
música somente pelos meus comentários. Mas não se enganem, esse álbum é muito
bom, e até mesmo uma música com a cara dessa Nova Era Maideana, soa com um hino clássico. Quando a música
começa, temos o verdadeiro e irreconhecível Iron Maiden, Nota 9,5.
Outra
música que nos remete mais ao Iron Maiden da segunda fase (exceto pela
introdução), “The Red and The Black”
não traz nenhuma surpresa, nenhuma reconstrução daquilo que já ouvimos antes,
no entanto, é a música com cara de Piece
of Mind que o vocalista disse em entrevistas (Em entrevista, Bruce
Dickinson disse que Speed of light
tinha cara dos anos 80). Como sempre, música feita para shows, pois o clima
todo é contagiante e grandioso. Mais uma vez a presença marcante do sétimo
integrante, trazendo os teclados para preencher os espaços entre os solos e
afins. Aliás, mais uma vez grande presença dos guitarristas, nas batalhas já
conhecidas da banda. Nota 9,5
A quinta
música nos remete a fase quatro do Iron Maiden – Tudo ali parece caber nas
linhas vocais de Blaze Bayley, um pouco mais alegre. Talvez por isso considere “When
The River Runs Deep” o ponto fraco do álbum. Vale ressaltar que a
música não é ruim, mas se compararmos com tudo que foi apresentado até então,
sua qualidade é muito inferior. Iron Maiden direto, rápido, pesado e simples.
Poderia também ser um single, com retoques mais de heavy metal que hard rock.
Nota 7,5.
A faixa
título, “The Book of Souls”, dá um certo calafrio com sua introdução.
Trauma dos últimos álbuns do Iron Maiden e suas despretensiosas introduções. No
entanto, no caso específico, temos uma belíssima introdução acústica que serve
para trazer uma das melhores canções do álbum. Batalha de solos, vocais claros
e melódicos. A música tem tudo para ser uma das mais emocionantes nos shows.
Outra vez o dinamismo da música não nos permite questionar os dez minutos da
faixa. Assim como aconteceu com Seventh
Son, os teclados dão uma estrutura para todo o acompanhamento. Vale a pena
decorar a letra, cantar junto, se arrepiar. Encerra-se a primeira parte do
álbum. Nota 10.
Mais uma
faixa intermediária, entre o Iron Maiden progressivo, do estilo dos últimos
álbuns; e o Iron Maiden que agrada os fãs mais novos, recém adquiridos com o já
longínquo Fear of The Dark. “Death or Glory”, música pesada,
rápida, nervosa; com tudo aquilo que os mais ávidos roqueiros querem. Cara da
carreira solo do Bruce Dickinson, mas com algo bem específico do Iron Maiden.
Interessante, embora tenha passado desapercebida por mim numa primeira audição.
Não faria falta, ainda que eu considere importante na divisão entre “as porradas”
e as “músicas trabalhadas”. Refrão típico. Nota 8,5
Os anos 80
voltaram! Descaradamente “Shadows of The Valey” poderia ser
gravada na época do Powerslave ou coisa do gênero. Cara completa da fase mais
famosa e empolgante do Iron Maiden. Pura nostalgia. Se dissessem que a música
estava gravada em algum lugar do passado, e que tivessem encontrado a “fita
k-7” e a regravaram, não seria nada impossível. Quando o álbum parecia ficar
cansativo, eis que aparece um respiro, um alívio; um estimulo qualquer dizendo:
fique ainda, coisas interessantes virão! Mesmo que você odeie a nova fase do
Iron Maiden e que não queira saber desse álbum, escute essa música pelo menos
umas duas vezes (uma das poucas músicas com final clássico, sem rodeios). Nota
10.
Depois da
magnífica faixa anterior era de se esperar que a expectativa em relação a
próxima música. “Tears of a Clown” não chega a ser ruim, mas é altamente
frustrante. Volto a lembrar que a fórmula encontrada em intercalar músicas
longas com músicas simples, pode ter dado certo, mas aos ouvidos mais atentos,
para essa música em especial, fica a impressão que alguma coisa ficou faltando.
A música mais curta, embora mediana, não chega comprometer o álbum. Traz um
belíssimo solo de guitarra. Nota 7,5.
Música
para mostrar o quanto vocalistas como Ian Gillan e Dio foram importantes para
Bruce Dickinson. “The Man of Sorrows”, trouxe um Iron Maiden adepto às
influências dos anos 70/80 de bandas clássicas, rock simples e direto; menos
melódico; com cara de “balada”. Ainda que (Graças aos Deuses do Rock), não
tenham caído no erro de regravarem um Wasting Love II. Não vou dizer que é o
ponto alto do álbum, mas como estamos falando da melhor obra pós-2000 do Iron
Maiden, temos que ter uma certa exigência em relação a tudo que é apresentado.
Vale, sim. Escutei diversas vezes, meio com cara de Whitesnake melhorado, o que
não é difícil. Nota 7
Meu Deus! “Empire
of the Clouds” é uma coisa que nunca pensei em ouvir num álbum do Iron
Maiden! Mas é uma surpresa extraordinária. Música mais longa, com quase dezoito
minutos de uma verdadeira ópera rock. Tem violinos, acústicos; piano. Bruce
Dickinson demonstrando o motivo de ser considerado um dos melhores vocalistas
de todos os tempos. Um início calmo, sento-me tranquilamente no sofá, a música
por si valeria todo o disco. A música vai evoluindo, mas diferente do que se
pode imaginar, não conseguimos perceber nitidamente a passagem da música, as
suas mudanças. Beleza impossível de se comentar, creiam. Não é Iron Maiden
clássico, não é Iron Maiden progressivo; mas é Iron Maiden que cria uma obra de
arte, cheia de enigmas, sons e uma forma incomparável. Nota 10.
Como eu
disse anteriormente, o álbum faz parte da fase em que o Iron Maiden teve as
mais sérias críticas em relação ao estilo musical. Há sempre o questionamento
em relação ao tempo das músicas, a necessidade das introduções; passagens
desnecessárias. Ainda que esse álbum tenha as mesmas características tão
comentadas nos álbuns anteriores, considero que enfim puderam cravar com todas
as letras a possibilidade de gravarem grandes músicas sem precisarem se
preocupar com o tempo que as pessoas gastariam para escutar. Escutar “The Book of Souls” não será perda de
tempo. O álbum é simplesmente incrível, desproporcional aos sons pasteurizados
que temos ouvido ultimamente. As músicas são livres e belíssimas, empolgantes. É
a correção da Era Maiden V, progressiva, única e sem qualquer comparação. ÁLBUM
NOTA 9
Nenhum comentário:
Postar um comentário