quarta-feira, maio 27, 2015

Os meus dias de solidão


Sumirei por alguns dias. Assumirei meu estado de graça. É necessário o sacrifício para a mudança. Pretendo o silêncio que faz bem à alma.  A solidão nesses dias aflitivos (Na verdade nunca estamos sós, mas estamos em Deus), requer de mim a paciência; uma sapiência, um correto comportar-se. Um pesar na frase impensada, antes que a revele. Reflexão dos meus atos - Como se fossem dos outros, em mim, a consequência. Não faça ao outro o que não quer para si mesmo, diz o mandamento. Não vou sair do meu cotidiano ordinário, mas transformarei em mim o mundo que me abriga. Sumirei das vistas banais dos homens e ouvirei anjos em sua sabedoria. Olvidar os vícios, os males; paixões irresponsáveis. Em mim, nesses dias, a ágape. Subirei ao monte invisível dos planos secretos da vida; que embora se denomine morte; é onde a história não termina. Aos meus amigos, que a minha volta, em breve; aguardam; trago cartas da fé que sempre tive.

E na carta falarei que felicidade no mundo é impossível, mesmo sabendo que ela é base que alicerça a vida. Impossível ao homem, mas não para Deus. Portanto não queria ser feliz pelo caminho errado, nem pelas escolhas imutáveis. O homem busca a felicidade eterna naquilo que é perecível: o que corrompe a felicidade é a corrupção da matéria. A matéria transforma-se, se desfaz. Vejam os séculos que se passaram, desde a criação do mundo humano; bens e tesouros mudaram de mãos, e continuando não sendo de ninguém. O ouro, que hoje se carrega nos dedos, talvez na alquimia do tempo, tenha sido de um rei ou de um criminoso; na boca podre de algum, pirata. A prata que se coloca na mesa, surgiu na manufatura de uma arma ou de um santuário. Tudo se transforma com o passar dos anos. Mesmo os humanos, com o esquecimento de tudo que deixou de ser; viverá nova velha aventura como se nunca tivesse a vivido. 

A felicidade não é desse mundo, assume o risco de nos desapontar Jesus de Nazaré, quando nos revela a frase fatídica nos Evangelhos. Mas, em sua vasta sabedoria, credita à verdade o remédio para qualquer ilusão. Que adianta a crença na felicidade quando se joga fora a oportunidade do aprendizado? Que nos serve a vida, para quem acumula o bem-estar desapropriado; quando desse mundo não há qualquer apropriação? Que valerá qualquer tesouro, quando nem o corpo, dito maior propriedade; se carrega para infinito?

Então, no silêncio das orações; a conversa íntima com Deus; onde quer que   esteja, nunca é vã. A oração é nosso pensamento ao infinito; a meditação é a resposta do infinito em nós. E nesse sumiço de mim do mundo, escuto nas literaturas sacras alguns ideais precisos e sublimes. É preciso aprender na solidão a companhia do mundo invisível, do saber eterno; a regalia das conquistas espirituais. E nos caminhos da verdade, quer nascido no seio do Himalaia; ou no ventre da Judéia; no agreste sertão; lições da vida e da morte, da felicidade e do sofrimento.

Diz ali que os pecados do homem nascem do homem. Nenhum ser, nenhuma planta e nenhum animal são responsáveis pela mente humana. Dois cavalos que se jogam na estrada, mas que não levam a qualquer lugar quando um deles está desgovernado. O homem como criador do seu caminho deve controlar o seu desejo e dominar sua vontade.

O desejo é a paixão do homem, descontrolado em sentimentos humanos; enraizados em seu instinto. Paixão que não é boa, nem má. Mas é o fogo. A paixão pela vida pode ser traduzida pela paixão do poder. O desejo é descontrolado na maioria das vezes. Irracional, motivado pela inconsequência dos atos. A violência é uma paixão, o amor nasce da paixão. O desejo do homem traz o desconforto da irracionalidade.

Em contrapartida ao desejo, a vontade. A lógica, a ação e o verbo ativo. O homem controla muito facilmente a vontade, embora se esconda de suas consequências. A vontade é criadora; é motivação; caminho que percorrerá em seus dias. A vontade é lógica, uma escolha; uma ponderação. A vontade na solidão é reflexão, solidão nos desejos é tormento. Desejo é afetivo, a vontade é afetuosa. Quem entende e pratica a diferença do desejo e da vontade controla suas escolhas diante da vida.

E Deus fez o homem e disse que ele governaria os animais - Descrição da Gênese - Animais são nossos instintos, numa figura simbólica. O homem que quer ascender deve dominar seus instintos primitivos. Nasce a infidelidade, a cobiça; o ódio. Nasce dos instintos descontrolados a tentativa de se tornar Deus. O nosso lugar na criação foi dado com amor e compaixão, mas fazemos do nosso corpo a corrupção do poder. Contenta-nos a criatura mais protegida pelo Criador fizesse distinção de sua obra. O homem dos instintos descontrolados não consegue a solidão do pensamento; a oração. Ele quer a carne, muitas vezes o sangue, quer a luxúria e os prazeres. O homem destrói o corpo, o mundo; os habitantes ao seu redor; transforma a casa de oração, o corpo físico, num covil de ladrões. Expulsa, Jesus em seus ensinamentos, os vícios do nosso corpo mortal.

E em nós cresce os males do corpo físico, que manipulam a oportunidade de aprendizado para vida eterna. Temos na vida física, terrena e humana; condições de compreender tudo que nos rodeia o mundo espiritual, como numa escola, de grandes e magníficas proporções. Na vida, como hospital a nos separar da doença, nos curando das chagas; salvando-nos da miséria da infelicidade.

Os males do corpo físico - li nesses avatares que o mundo nos proporciona -  são determinantes para os sofrimentos humanos, sem idades e classes sociais, indistintamente. Os males, como cobiça, a ira e a ignorância; determinam nossa condição de derrota e de subtração de Deus em nós.

Iluminados serão os homens que compreenderem o melhor caminho. Dado pelos exemplos de tantos vitoriosos da vida, como Buda e Cristo; Khrisna e Moisés. É nos dado a salvação, em exemplos que não são nossos; mas que nos servem para a evolução. Os caminhos corretos, a fala correta. Quando o homem aprendeu a comer tanto, esqueceu-se de comer o necessário. Quando o homem passou a se olhar no espelho, descobriu que as roupas não serviam apenas para protegê-lo do frio. Quando o homem descobriu sua inteligência, fez dela a sua mais terrível e assustadora arma. O homem faz tudo por causa de sua cobiça insaciável. Determina ordens por sua ira incontrolável. Mata e morre em sua completa ignorância.

Reflitam na solidão dos dias, em paz com Deus, ou qualquer nome dado ao que chamamos de Criador; e dele saibam que o homem não nasceu para ser aquilo que pretende, mas aquilo que está em sua base original: vós sóis Deuses, resumiu Jesus sobre nós. Vamos fazer de nós aquilo que há de melhor.

Assim, sumirei por alguns dias. Quem sabe nesse intervalo das horas, sem perceber e com grande surpresa; eu possa me encontrar de novo.


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