Sumirei por
alguns dias. Assumirei meu estado de graça. É necessário o sacrifício para a
mudança. Pretendo o silêncio que faz bem à alma. A solidão nesses dias aflitivos (Na verdade
nunca estamos sós, mas estamos em Deus), requer de mim a paciência; uma
sapiência, um correto comportar-se. Um pesar na frase impensada, antes que a revele.
Reflexão dos meus atos - Como se fossem dos outros, em mim, a consequência. Não
faça ao outro o que não quer para si mesmo, diz o mandamento. Não vou sair do
meu cotidiano ordinário, mas transformarei em mim o mundo que me abriga.
Sumirei das vistas banais dos homens e ouvirei anjos em sua sabedoria. Olvidar
os vícios, os males; paixões irresponsáveis. Em mim, nesses dias, a ágape.
Subirei ao monte invisível dos planos secretos da vida; que embora se denomine
morte; é onde a história não termina. Aos meus amigos, que a minha volta, em
breve; aguardam; trago cartas da fé que sempre tive.
E na carta
falarei que felicidade no mundo é impossível, mesmo sabendo que ela é base que
alicerça a vida. Impossível ao homem, mas não para Deus. Portanto não queria
ser feliz pelo caminho errado, nem pelas escolhas imutáveis. O homem busca a
felicidade eterna naquilo que é perecível: o que corrompe a felicidade é a
corrupção da matéria. A matéria transforma-se, se desfaz. Vejam os séculos que
se passaram, desde a criação do mundo humano; bens e tesouros mudaram de mãos,
e continuando não sendo de ninguém. O ouro, que hoje se carrega nos dedos,
talvez na alquimia do tempo, tenha sido de um rei ou de um criminoso; na boca
podre de algum, pirata. A prata que se coloca na mesa, surgiu na manufatura de
uma arma ou de um santuário. Tudo se transforma com o passar dos anos. Mesmo os
humanos, com o esquecimento de tudo que deixou de ser; viverá nova velha
aventura como se nunca tivesse a vivido.
A felicidade
não é desse mundo, assume o risco de nos desapontar Jesus de Nazaré, quando nos
revela a frase fatídica nos Evangelhos. Mas, em sua vasta sabedoria, credita à
verdade o remédio para qualquer ilusão. Que adianta a crença na felicidade
quando se joga fora a oportunidade do aprendizado? Que nos serve a vida, para
quem acumula o bem-estar desapropriado; quando desse mundo não há qualquer
apropriação? Que valerá qualquer tesouro, quando nem o corpo, dito maior
propriedade; se carrega para infinito?
Então, no
silêncio das orações; a conversa íntima com Deus; onde quer que esteja, nunca é vã. A oração é nosso
pensamento ao infinito; a meditação é a resposta do infinito em nós. E nesse
sumiço de mim do mundo, escuto nas literaturas sacras alguns ideais precisos e
sublimes. É preciso aprender na solidão a companhia do mundo invisível, do
saber eterno; a regalia das conquistas espirituais. E nos caminhos da verdade,
quer nascido no seio do Himalaia; ou no ventre da Judéia; no agreste sertão;
lições da vida e da morte, da felicidade e do sofrimento.
Diz ali que
os pecados do homem nascem do homem. Nenhum ser, nenhuma planta e nenhum animal
são responsáveis pela mente humana. Dois cavalos que se jogam na estrada, mas
que não levam a qualquer lugar quando um deles está desgovernado. O homem como
criador do seu caminho deve controlar o seu desejo e dominar sua vontade.
O desejo é a
paixão do homem, descontrolado em sentimentos humanos; enraizados em seu
instinto. Paixão que não é boa, nem má. Mas é o fogo. A paixão pela vida pode
ser traduzida pela paixão do poder. O desejo é descontrolado na maioria das
vezes. Irracional, motivado pela inconsequência dos atos. A violência é uma
paixão, o amor nasce da paixão. O desejo do homem traz o desconforto da
irracionalidade.
Em
contrapartida ao desejo, a vontade. A lógica, a ação e o verbo ativo. O homem
controla muito facilmente a vontade, embora se esconda de suas consequências. A
vontade é criadora; é motivação; caminho que percorrerá em seus dias. A vontade
é lógica, uma escolha; uma ponderação. A vontade na solidão é reflexão, solidão
nos desejos é tormento. Desejo é afetivo, a vontade é afetuosa. Quem entende e
pratica a diferença do desejo e da vontade controla suas escolhas diante da
vida.
E Deus fez o
homem e disse que ele governaria os animais - Descrição da Gênese - Animais são
nossos instintos, numa figura simbólica. O homem que quer ascender deve dominar
seus instintos primitivos. Nasce a infidelidade, a cobiça; o ódio. Nasce dos
instintos descontrolados a tentativa de se tornar Deus. O nosso lugar na
criação foi dado com amor e compaixão, mas fazemos do nosso corpo a corrupção
do poder. Contenta-nos a criatura mais protegida pelo Criador fizesse distinção
de sua obra. O homem dos instintos descontrolados não consegue a solidão do
pensamento; a oração. Ele quer a carne, muitas vezes o sangue, quer a luxúria e
os prazeres. O homem destrói o corpo, o mundo; os habitantes ao seu redor;
transforma a casa de oração, o corpo físico, num covil de ladrões. Expulsa, Jesus
em seus ensinamentos, os vícios do nosso corpo mortal.
E em nós
cresce os males do corpo físico, que manipulam a oportunidade de aprendizado
para vida eterna. Temos na vida física, terrena e humana; condições de
compreender tudo que nos rodeia o mundo espiritual, como numa escola, de
grandes e magníficas proporções. Na vida, como hospital a nos separar da
doença, nos curando das chagas; salvando-nos da miséria da infelicidade.
Os males do
corpo físico - li nesses avatares que o mundo nos proporciona - são determinantes para os sofrimentos
humanos, sem idades e classes sociais, indistintamente. Os males, como cobiça,
a ira e a ignorância; determinam nossa condição de derrota e de subtração de
Deus em nós.
Iluminados
serão os homens que compreenderem o melhor caminho. Dado pelos exemplos de
tantos vitoriosos da vida, como Buda e Cristo; Khrisna e Moisés. É nos dado a
salvação, em exemplos que não são nossos; mas que nos servem para a evolução.
Os caminhos corretos, a fala correta. Quando o homem aprendeu a comer tanto,
esqueceu-se de comer o necessário. Quando o homem passou a se olhar no espelho,
descobriu que as roupas não serviam apenas para protegê-lo do frio. Quando o
homem descobriu sua inteligência, fez dela a sua mais terrível e assustadora
arma. O homem faz tudo por causa de sua cobiça insaciável. Determina ordens por
sua ira incontrolável. Mata e morre em sua completa ignorância.
Reflitam na
solidão dos dias, em paz com Deus, ou qualquer nome dado ao que chamamos de
Criador; e dele saibam que o homem não nasceu para ser aquilo que pretende, mas
aquilo que está em sua base original: vós sóis Deuses, resumiu Jesus sobre nós.
Vamos fazer de nós aquilo que há de melhor.
Assim,
sumirei por alguns dias. Quem sabe nesse intervalo das horas, sem perceber e com
grande surpresa; eu possa me encontrar de novo.
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