E tornou-se tudo tão superlativo. É verdade,
ainda não me acostumei conviver com tantas diferenças. Aqui nada é viver, tudo
é paisagem. Tudo tão descritivo: opiniões demais. Mas faz parte da minha vida
rotineira, como tomar banho; comer e fazer sexo. Um relacionamento aberto, às
vezes, festivo; muitas vezes, não. Curtir, compartilhar e determinar
tendências. Tudo é uma certeza excessiva: da moda, da política; do certo e
errado. E eu, ao meu tempo, do meu modo; sinto-me cada dia mais ignorante, não
sabendo qual minha decisão certeira; pois o tempo passou depressa, e mais
algumas palavras ficaram perdidas.
Você lembra quais suas postagens de hoje? Não
lembramos. E quando lembramos, por um descuido qualquer da memória, não sabemos
sua relevância. Pois nesse mundo de excessos, não é tão relevante quando há
inconsciência. Fotos, piadas, músicas, opiniões, reportagens; mentiras. Tudo
vai e vem, num replique multiplicador de informações, que deformam muitas vezes
aquilo que é essencial: a troca, a conversa, os desejos íntimos. De tantos que
aqui comparecem, somos tão pouco íntimos. Como foi o seu dia? Como está o
trabalho? Tem vontade de comer o quê no final de semana? Como estão os filhos?
Tão íntimas, mas tão ordinárias nossas relações inconstantes. Diga-me sobre
você, mas não diga aquilo que os outros estão dizendo, numa manada tão
despretensiosa.
Aqui eu vivo nitidamente vigiado. Como se normal
nos dias de hoje fosse tanta nudez. Expresso-me sem qualquer receio, pois não
será apenas aquilo que eu sou, mas o tanto que me fizeram ser. Por isso, quando
digo odiar a segunda-feira, odeio com todo o coração, mesmo quando a
segunda-feira for de bom grado. Quando digo contar as horas para a sexta-feira,
faço-o como se toda sexta-feira tivesse qualquer produto que me fizesse feliz.
Aqui não há espaço para o talvez, nem para o “hoje não quero, estou com dor de
cabeça”. Hoje é todo o dia, até o dia seguinte; até a próxima postagem. A
escolha; qualquer que seja, é polêmica.
Vigiado, vigiado. Jogo numa centrífuga tudo de
mim, minhas escolhas, decisões, medos e vontades. Gostem em mim, triturado aos
meus iguais tão desiguais, meu desejo. Em formado único, pulverizado; decido
que quero mesmo sem saber realmente o quê. Quero, pois todo mundo quer. Não
quero, pois ninguém quer. Tudo ao mesmo tempo, simultaneamente. É assim a vida
por aqui, nessas horas que passo com vocês, intercalando o metrô lotado com as
centenas de curtidas no texto. Às vezes não são centenas, e isso é a morte. A
morte que acontece aqui dentro pode ser a vida que acontece lá fora.
E assim vamos logando, transloucados...
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