Dia das mães é um dia especial. Não
estou aqui para escrever mais um texto sobre o dia das mães, como outros que
vocês provavelmente lerão ao longo da semana. Esta carta, ou melhor, isto que
poderia ser uma carta; não é. Não existe um destinatário, ou pelo menos o
destinatário não está mais ao meu lado, fisicamente. Quantas vezes eu tive
oportunidade em escrever alguma coisa, mas não o fiz? Quantas vezes, ao longo
da minha vida, em que ela esteve aqui, não escrevi absolutamente nada, assim,
como faço agora? Pois é. Ao longo dos anos, e já se vão alguns deles, não me
acostumei com a ideia de que não posso mais entregar esta carta. Carta que eu
nunca escrevi antes; mas que agora eu sinto uma vontade imensa, quase uma
necessidade metafísica. A carta que eu escrevo agora não chegará fisicamente em
suas mãos, mas esperto que chegue ao seu coração, onde você estiver.
Bem da verdade, é uma carta de
egoísmo, uma carta minha, individual e exclusiva. Mas assim, aberta, espero que
sirva de exemplo para outras pessoas: entregue, enquanto possível, o seu
coração à sua mãe; pois ela merece! Escrevo como querendo colo, mesmo marmanjo.
Escrevo como querendo dizer um “eu te amo”, que às vezes, por ironia do
destino, não dizia tão facilmente. Errei? Claro, devo ter errado muito. Ainda
erro. Você minha mãe, depois que se foi para outras paradas, deve saber que
ainda erro; mas que também quero acertar muito. A carta egoísta é para saciar
um pouco minha saudade. É como se estivesse escrevendo com você ao meu lado,
dando risada das palavras. Você sabe das palavras, sabe o seu poder, sempre me
disse isso. O dom de construir e destruir. Como podia dizer aquelas coisas que
sempre me motivavam até nos momentos mais complicados? Como eu não pude
entender o seu momento complicado? Olha, a carta é para me desculpar também. A
carta que estou lendo, em voz alta, esperando que siga o som o direcionamento
certo, é para pedir desculpas.
Dia das mães é diferente, volto a
dizer. Podemos ter filhos, pais, esposa e marido, amigos e afins; mas amar
você, incondicionalmente, deve ser coisa de mãe. Por isso as mães são
veneradas; refletem um poder divino. A mãe das águas não quererá meu mal. A mãe
Terra sempre complacente com nossos desmandos. A mãe, da barriga, dos meses nos
carregando como parte dela, esta mãe dá muita saudade. É para essa mãe que eu
escrevo. Hoje eu quero pedir que as pessoas em minha volta me entendam um
pouco. Eu sei o quanto elas me amam, e que existe um sentimento recíproco; mas
hoje mesmo estou precisando apenas de uma pessoa. Hoje eu queria que ela
reclamasse comigo das minhas malcriações na infância (ela sempre disse que não
foram muitas). Das minhas escolhas incorretas na adolescência (que ela sempre
disse ser da idade); das minhas inseguranças adultas (que ela tentava me ajudar
quando possível). Mas, mãe, hoje eu preciso apenas um oi, um telefonema, uma
carta; um sonho, um relance qualquer que eu possa ter, como se você docemente
estivesse me observando.
Eu sei que peço muito para quem
já me deu demais. Mas sou fraco, às vezes. Humano. Como eu disse: um tanto
egoístas. E o seu olhar me reprovando dizendo que o sofrimento diante da morte
é uma fraqueza que deve ser evitada, pois a verdadeira vida, de amor e de
contemplação com o divino, é fora, longe; sem qualquer choro e sofrimento, num
lugar melhor. A carta, esta minha carta egoísta, como se quisesse trazê-la de
volta, só um pouco; é uma carta que não precisa ser nada além disso, só precisa
ser a revelação de que ainda te amo muito, embora já tenha me dito que nunca
tivesse falado isso tão abertamente; mas que mais que qualquer coisa, fazia
questão de demonstrar.
Hoje é um dia especial também
para os filhos, que ainda podem fazer muito para suas mães. Não só hoje, não só
um belo presente e um almoço especial; mas é dia de refletir. Quanto tempo
minha mãe estará comigo? Quanto eu ainda posso fazer por ela? Quanto que eu
ainda posso demonstrar do meu amor? Quanto posso perdoar? É verdade que o dia é
especial para as mães, mas é muito mais para os filhos, para sua oportunidade
de corrigir algum atalho, um descaminho que, por descuido, andamos tomando.
Hoje é dia das mães, mas como o amor de mãe é sempre maior que podemos
imaginar, fica aquela sensação de que é possível lhe pedir um presente. Um
presente que rompa a barreira do possível, do tempo e do espaço; dos desígnios
de Deus: nossa mãe sempre com a gente!
Um ótimo dia das mães, minha mãe,
onde estiver receba essa minha lembrança.
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