São Paulo num aniversário sem qualquer festa.
Terá um bolo, cantaremos parabéns; beberemos alguma coisa. Mas tudo será
fúnebre. Uma festa para cobrir o protocolo histórico, mas sem qualquer
comemoração. São Paulo não tem qualquer motivo para festa. Não há felicidade,
amor e humildade para se desejar ao aniversariante. Vivemos uma crise. Aliás,
várias crises que podem não estar ligadas, mas estão correlacionadas. São Paulo
é um efeito borboleta complexo. Vamos chegar ao festejo com roupa de gala, mas
cada um dos convidados, ao seu estilo, carregará uma justa e diferente
frustração.
A cidade que me deu a vida, não me dá abrigo. Deu-me
a liberdade, mas não a escolha. Deve-me, portanto, sinceridade. Em cada ponto
de ônibus, hospital, posto de saúde; deve me dizer a verdade. Cidade extremamente
cara em seu requinte, pobre em sua individualidade. Cada um por si, dinheiro
sonho de todos. O carro, o tênis; o perfume nas Madalenas, Jardins; Afins e
Alamedas. Vamos beber gasolina qualquer dia desses. Cidade que cheira fumaça,
diesel e cigarro sem filtro. Beleza que Narciso acha feio nesse espelho do
resto do Brasil: aqui somos um pouco de tudo e quase não somos nada.
Em São Paulo, de “Lobatos”, “Alvares”, “Tarsilas”,
“Andrades” e “Mários”; não há espaço para devaneios. Sonho aqui é fuga. Êxodo para
um lugar melhor: Rios que não correm apenas em janeiros, fortalezas de nossas
escolhas; qualquer um salvador. Vamos para um porto alegre desse nosso belo
horizonte que é fugir da poluição, dos carros e dessa multidão ao nosso lado. Mas
não: amamos essa bagunça, amamos perder a noção, amamos sermos exatamente como
somos.
A semana moderna é o muro grafitado. Crônicas diárias
da violência, dos meninos nos faróis; da nossa solidão e desumanidade. Não nos
julguem; amigos brasileiros, somos muito mais sozinhos que vocês imaginam. E nesse
orfanato; Pedro brigado com Paulo; que desconfia de Deus e sua chuva. São Paulo,
na descrença, pense em se tornar novamente Saulo, caindo não apenas do cavalo,
mas do trono que sempre quis para si. Como se fosse o melhor povo, escolhido e
que sabe escolher (votar). Uma locomotiva que virou carroça sem freios; e que
tem o destino triste de morrer com sede e na brasa do seu rigoroso verão.
Mas, com essa festa toda; melhor não pensar em
coisas ruins. Faremos a festa, sim. Trazendo a cultura de todo o lugar do
mundo, pois a festa não é nossa; a cultura e a comida já não é mais nossa exclusividade;
mas dinâmica e orgânica. Nossa cultura de ontem com hot dog e cinema; hoje é
BBB e sushi congelado. Amanhã? Quem sabe quadros no MASP e Food Truck. Comemos bem,
bebemos bem; trabalhamos muito e dormimos mal. Mas adoramos a sexta-feira como
refúgio; e feriados como presente divino.
Pena que nosso feriado este ano cairá num domingo.
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2 comentários:
Fantástico
Sen-sa-cio-nal !
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