Ontem teve o panelaço, amanhã a revolução. Quer dizer,
em cantos do Brasil as panelas viraram personagem central. Não em todos os
lugares, apesar do aparente descontentamento geral. A impressão que tenho, de
que ninguém está contente com o governo, pode ser coisa de novela; pouco antes
do Jornal Nacional. Não estou contente com o governo também, mas nem por isso
exijo o golpe. Por isso, há em mim um sentimento de derrota. Um sentimento que
me diz que aqui a democracia perdeu a oportunidade. Não que a ditadura trará
benefícios, muito pelo contrário. Quero dizer que a democracia regrediu. Transformou-se
num aprendizado infantil na sociedade: barulho de panelas, cuspir na
presidente; elogiar a reformulação no caos: estamos longe da maturidade.
Fui apedrejado em rede social pública quando
disse que achava um absurdo a vaia recebida por Dilma no estádio de futebol,
diante do mundo. Não era coisa educada; ainda que muitos achassem as vaias
justas. Realmente a insatisfação e a forma que exigimos melhorias é um tanto
complicada. Mas é nossa maneira, não arrumamos outra. Nossa maneira de dizer
que não precisamos nem ouvir, já sabemos a resposta. Muitos daqueles que se
debruçaram nas janelas, fazendo barulho, não souberam nem o teor daquilo que a
presidente teria para dizer. Temos essa relação complicada com o poder público,
nunca nos amamos.
Não sou favorável ao segundo mandato: a alternância
de poder faz o povo e os próprios políticos se reciclarem em suas exigências e
comportamentos. Após um primeiro governo de Dilma apenas razoável, seria interessante à
esquerda um período sabático. Há quem diga que a esquerda, assim como a
oposição; precisam de períodos de descanso; para que não tratem seus ideais com
descaso. A divisão dos votos pode ter mostrado isso: a maioria não estava
contente, ainda que a maioria tenha eleito. Os números, do jeito que foram,
fragmentaram a eleição como se desse ao perdedor o direito de exigir a contagem
de votos, a reeleição antes do tempo; o golpe na lógica numérica do resultado. Nunca
na história deste país, o cinquenta por cento mais um foi tão questionado.
Com tudo isso, não concordo com o Cavalo de Tróia
dentro da minha casa. Uma maciça sabotagem ao governo. Não vejo com bons olhos
a tentativa de dar significação maldita ao PT e bendita ao PSDB. O jogo
político, entrando de forma descarada, com todos os privilégios; parece mais
golpe que ajuste. Quero os corruptos na cadeia, quero a reforma política; não
concordo com tantos nomes; fazendo da coisa pública privada. Mas quero
principalmente a imparcialidade, a justeza das informações; o critério
equiparado. É bem verdade que no mundo, mesmo os países mais desenvolvidos;
essa imparcialidade não existe. Mas lá, pelo menos, ela é mais clara, definida;
sem qualquer desvio mal caráter.
Cabe a população a busca pela informação, a
análise dos fatos. Verão que os vilões dessa história nem sempre são tão
terríveis, e que os mocinhos, nem sempre querem nosso bem. Principalmente na
política, o bom e o mau, são expressões relativas, eticamente desajustadas;
parcialmente compreendidas. O panelaço deveria sair nas ruas, não pelos vinte
centavos; nem por causa da Petrobrás; mas por todos os privilégios e
anormalidades desse funcionalismo público, político; que causa danos aos menos favorecidos
desde da criação da humanidade.
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