terça-feira, março 10, 2015

Pior relato: a desesperança


Ontem teve o panelaço, amanhã a revolução. Quer dizer, em cantos do Brasil as panelas viraram personagem central. Não em todos os lugares, apesar do aparente descontentamento geral. A impressão que tenho, de que ninguém está contente com o governo, pode ser coisa de novela; pouco antes do Jornal Nacional. Não estou contente com o governo também, mas nem por isso exijo o golpe. Por isso, há em mim um sentimento de derrota. Um sentimento que me diz que aqui a democracia perdeu a oportunidade. Não que a ditadura trará benefícios, muito pelo contrário. Quero dizer que a democracia regrediu. Transformou-se num aprendizado infantil na sociedade: barulho de panelas, cuspir na presidente; elogiar a reformulação no caos: estamos longe da maturidade.

Fui apedrejado em rede social pública quando disse que achava um absurdo a vaia recebida por Dilma no estádio de futebol, diante do mundo. Não era coisa educada; ainda que muitos achassem as vaias justas. Realmente a insatisfação e a forma que exigimos melhorias é um tanto complicada. Mas é nossa maneira, não arrumamos outra. Nossa maneira de dizer que não precisamos nem ouvir, já sabemos a resposta. Muitos daqueles que se debruçaram nas janelas, fazendo barulho, não souberam nem o teor daquilo que a presidente teria para dizer. Temos essa relação complicada com o poder público, nunca nos amamos.

Não sou favorável ao segundo mandato: a alternância de poder faz o povo e os próprios políticos se reciclarem em suas exigências e comportamentos. Após um primeiro governo de Dilma apenas razoável, seria interessante à esquerda um período sabático. Há quem diga que a esquerda, assim como a oposição; precisam de períodos de descanso; para que não tratem seus ideais com descaso. A divisão dos votos pode ter mostrado isso: a maioria não estava contente, ainda que a maioria tenha eleito. Os números, do jeito que foram, fragmentaram a eleição como se desse ao perdedor o direito de exigir a contagem de votos, a reeleição antes do tempo; o golpe na lógica numérica do resultado. Nunca na história deste país, o cinquenta por cento mais um foi tão questionado.

Com tudo isso, não concordo com o Cavalo de Tróia dentro da minha casa. Uma maciça sabotagem ao governo. Não vejo com bons olhos a tentativa de dar significação maldita ao PT e bendita ao PSDB. O jogo político, entrando de forma descarada, com todos os privilégios; parece mais golpe que ajuste. Quero os corruptos na cadeia, quero a reforma política; não concordo com tantos nomes; fazendo da coisa pública privada. Mas quero principalmente a imparcialidade, a justeza das informações; o critério equiparado. É bem verdade que no mundo, mesmo os países mais desenvolvidos; essa imparcialidade não existe. Mas lá, pelo menos, ela é mais clara, definida; sem qualquer desvio mal caráter.


Cabe a população a busca pela informação, a análise dos fatos. Verão que os vilões dessa história nem sempre são tão terríveis, e que os mocinhos, nem sempre querem nosso bem. Principalmente na política, o bom e o mau, são expressões relativas, eticamente desajustadas; parcialmente compreendidas. O panelaço deveria sair nas ruas, não pelos vinte centavos; nem por causa da Petrobrás; mas por todos os privilégios e anormalidades desse funcionalismo público, político; que causa danos aos menos favorecidos desde da criação da humanidade. 



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