segunda-feira, abril 13, 2015

A tristeza do dia seguinte


O dia triste me fez errar o caminho, mesmo sendo um dia como outro qualquer. Embora comum, muito mais triste. Pois, de algum modo, inexplicavelmente; triste. Tomou-lhe, a tristeza, o dia como sendo seu. Não houve discussão, nem consentimento. Pegou o dia, dominou-o. Um dia comum, afirmo novamente. Um dia em que tive fome e sede. Um dia em que fiquei com vontade de deitar no sofá da sala, ver um filme legendado; comer pipoca. Mas tudo isso, com a tristeza, não surtiu qualquer efeito positivo. As situações alegres, ainda que existissem de fato, tornaram o dia um pouco mais triste. Volto a dizer, antes que me questionem novamente: não sei o motivo da tristeza. Não sei a sua razão de estar aqui, não sei afinal o que ela quer de mim. É um dia triste apenas, arrebatador e virulento; como doença sem solução.

Procria-se, a tristeza, em seu abatedouro. Construindo em si mesma a sentença: o fim estará próximo. Nós morreremos abraçados. O dia dessa tristeza, quando comecei a perceber as coisas; tudo ficou parecendo um pouco mais injusto. Ouvi, neste dia, injúrias. Ouvi coisas injustas da boca que até Deus duvida. Embora Ele não duvide de nada em sua criação ainda tão infantil aos olhos da eternidade. Ouvi a ingratidão batendo na porta: Eis que estou aqui, abra! Abri, pois não havia escapatória. Entraria pela porta, ou pela janela; ou pelo ralo do banheiro. Ouvi palavras públicas, que no íntimo, nunca deveriam ser pronunciadas. A mentira tem suas artimanhas, quem dela se apropria se torna embusteiro.  O dia ficou mais triste nas palavras enclausuradas no peito do meu opositor, cheias de mágoas e traumas. Cheias de um rancor, que eu não queria receber: como flecha, dardo ou lança; foram certeiras em mim, pela pessoa errada.

O dia, que ainda não é passado, mas vivido na minha memória; vi poucos amigos. Quer dizer, vi todos; mas partindo. Ouvi seus conchavos de mentes delirantes, buscando alegrias quando mapeando festejos; determinando convidados (Meu nome não estava na lista). Ri dos poucos familiares que me restaram, relembrando histórias, contanto casos; decidindo a receita para o domingo de páscoa; o renascimento. Recriando encontros e desencontros comuns de qualquer família. E dentro de todos esses eventos, meu nome também não estava na lista. Olhei triste, um tanto mais triste; a fotografia de gente que sorri, pode ser mesmo sorridente, de gente séria; por ser mesmo a serenidade; alguns de birra, pela sua teimosia. Cada qual em sua característica; mas poucos ali como eu: sozinho, pela solidão.

Aquele dia triste, que ficou mais triste ainda; resolvi mandar uma carta, sem destinatário. Tinha na mente tantas coisas boas, tanta saudade. Mas ela foi se esvaziando, as palavras. Naquele dia triste, não fingi qualquer discrição; mas evitei a desnudez diante de tantos observadores; que, indiferentes, não quiseram saber de nada do que estava acontecendo, apesar de estarem curiosos. Naquele dia, a chance de matar o Rei. Meu Reino vi por um fio. Meu Reino por um cavalo. Meu Reino por qualquer um que me ajude. Meu Reino por uma chance. Meu reino para as coisas voltarem ao normal novamente.


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