O dia triste me fez errar o caminho, mesmo
sendo um dia como outro qualquer. Embora comum, muito mais triste. Pois, de
algum modo, inexplicavelmente; triste. Tomou-lhe, a tristeza, o dia como sendo
seu. Não houve discussão, nem consentimento. Pegou o dia, dominou-o. Um dia
comum, afirmo novamente. Um dia em que tive fome e sede. Um dia em que fiquei
com vontade de deitar no sofá da sala, ver um filme legendado; comer pipoca.
Mas tudo isso, com a tristeza, não surtiu qualquer efeito positivo. As
situações alegres, ainda que existissem de fato, tornaram o dia um pouco mais
triste. Volto a dizer, antes que me questionem novamente: não sei o motivo da
tristeza. Não sei a sua razão de estar aqui, não sei afinal o que ela quer de
mim. É um dia triste apenas, arrebatador e virulento; como doença sem solução.
Procria-se, a tristeza, em seu abatedouro.
Construindo em si mesma a sentença: o fim estará próximo. Nós morreremos
abraçados. O dia dessa tristeza, quando comecei a perceber as coisas; tudo ficou
parecendo um pouco mais injusto. Ouvi, neste dia, injúrias. Ouvi coisas
injustas da boca que até Deus duvida. Embora Ele não duvide de nada em sua
criação ainda tão infantil aos olhos da eternidade. Ouvi a ingratidão batendo
na porta: Eis que estou aqui, abra! Abri, pois não havia escapatória. Entraria
pela porta, ou pela janela; ou pelo ralo do banheiro. Ouvi palavras públicas,
que no íntimo, nunca deveriam ser pronunciadas. A mentira tem suas artimanhas,
quem dela se apropria se torna embusteiro. O dia ficou mais triste nas palavras
enclausuradas no peito do meu opositor, cheias de mágoas e traumas. Cheias de
um rancor, que eu não queria receber: como flecha, dardo ou lança; foram
certeiras em mim, pela pessoa errada.
O dia, que ainda não é passado, mas vivido na
minha memória; vi poucos amigos. Quer dizer, vi todos; mas partindo. Ouvi seus
conchavos de mentes delirantes, buscando alegrias quando mapeando festejos;
determinando convidados (Meu nome não estava na lista). Ri dos poucos familiares
que me restaram, relembrando histórias, contanto casos; decidindo a receita
para o domingo de páscoa; o renascimento. Recriando encontros e desencontros
comuns de qualquer família. E dentro de todos esses eventos, meu nome também não
estava na lista. Olhei triste, um tanto mais triste; a fotografia de gente que
sorri, pode ser mesmo sorridente, de gente séria; por ser mesmo a serenidade;
alguns de birra, pela sua teimosia. Cada qual em sua característica; mas poucos
ali como eu: sozinho, pela solidão.
Aquele dia triste, que ficou mais triste
ainda; resolvi mandar uma carta, sem destinatário. Tinha na mente tantas coisas
boas, tanta saudade. Mas ela foi se esvaziando, as palavras. Naquele dia
triste, não fingi qualquer discrição; mas evitei a desnudez diante de tantos
observadores; que, indiferentes, não quiseram saber de nada do que estava
acontecendo, apesar de estarem curiosos. Naquele dia, a chance de matar o Rei.
Meu Reino vi por um fio. Meu Reino por um cavalo. Meu Reino por qualquer um que
me ajude. Meu Reino por uma chance. Meu reino para as coisas voltarem ao normal
novamente.
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