sexta-feira, outubro 28, 2016

DESCONECTADO: Fraternidade, Igualdade e Liberdade

 

Na Revolução Francesa, um dos maiores movimentos contemporâneos, um lema foi determinante no processo de ruptura com o modelo social e econômico. Uma mudança que trazia ao centro da sociedade um novo integrante: a burguesia. Nasce um movimento político que tinha como base uma nova construção socioeconômica. Na revolução diziam: nada valerá a liberdade se não houver igualdade. E posteriormente: a fraternidade, que é o amor entre os irmãos humanos no planeta, é vital para a revolução. Assim, eternizou a expressão: liberdade, igualdade e fraternidade, ou em sua língua pátria: Liberté, Egalité, Fraternité.

No entanto, viu em ruínas seu propósito quando a liberdade da revolução foi também a construção de cadeia aos opositores. Quando a igualdade entre os seres se perdeu na elaboração de uma rede de privilégios deixando exposta a fragilidade dos meios econômicos e consequentemente sociais. Viu também a fraternidade se deteriorando nessa desastrosa compilação de conceitos e meios, justificados como modernos, mas com viés extremamente individualistas.

Se muitas conquistas da humanidade nasceram na Revolução Francesa, algumas controvérsias mostraram que a prática de uma teoria perfeita ainda estava longe de ser uma realidade confortável. Sequelas de uma liberdade condicional, uma igualdade elitizada e uma fraternidade seletiva são protagonistas numa sociedade arrogante, violenta, ambiciosa e desumana que ainda parece ser uma chaga na sociedade moderna.

A resolução para tal enigma tinha aparecido há dois mil anos, com uma revolução mais libertária, igualitária e fraterna: o Evangelho de Cristo. E para tal, se analisarmos a lição vanguardista que ele apresentou, diremos que os conceitos na Revolução Francesa já tinham sido revelados por Jesus de Nazaré, mas com uma diferença simples, mas que modifica toda a relação do homem com ele mesmo e com o planeta onde vive. Jesus trás, com seu Evangelho, a noção de fraternidade, igualdade e liberdade. Isso mesmo, em ordem inversa. Em ordem que estimula muito mais o amor entre as pessoas, pois é no princípio dessa relação humana que aflora as demais necessidades, de sermos iguais e notoriamente livres.

A fraternidade é o principal item das relações humanas, por isso ele deveria vir em primeiro lugar. Ele é o fim do egoísmo. A fraternidade determina que o outro é tão importante quanto a nós mesmos. O outro requer cuidado e atenção. O outro é o mais próximo mesmo quando está distante. O outro é filho de Deus, mesmo em seus erros que parecem imperdoáveis. O outro é espelho de nós mesmos na construção da humanidade. O outro não se difere em nada daquilo que eu sou. O outro é a peça mais importante na construção da minha vida, ele dá a sustentabilidade para quem eu sou. Ninguém vive sozinho, e quando reconhece no outro a si mesmo, reconhece sua própria criação. Por isso Jesus pediu a reconciliação com o inimigo, por isso não deixou que abandonássemos os mais necessitados: de saúde, de condições financeiras, morais e psicológicas. Por isso pediu para amarmos uns aos outros.

E quando vemos com fraternidade "o outro", não existe nenhuma condição que interfira no tratamento igualitário. A igualdade é a equiparação da essência, embora não seja na forma. A igualdade é criar condições mais justas possíveis na realização pessoal. Evidente que a igualdade não pode determinar que pessoas sejam iguais. Neste mundo de preparação, de aprendizado; diferentes formas e meios são construídos no cotidiano. A igualdade não é absoluta naquilo que estou, mas só poderá existir naquilo que sou. As diferenças externas não podem parametrizar a igualdade interna. A essência divina, naquela proposta milenar do namastê, é exatamente a aceitação da igualdade divina entre os diferentes, e somente dessa maneira, olhado para dentro de cada um, acharemos a maneira de equipar oportunidades onde predomina tanta diferença.

Como recriar a igualdade interna na relação externa? Como determinar a igualdade micro na justiça macro? Talvez a fase mais complicada na nossa atual existência. Requer o conhecimento das ligações humanas que ainda não estão nitidamente desenvolvidas. Há, nos estudos esotéricos e filosóficos, a ideia da ligação universal e ininterrupta dos seres no planeta, essa ligação pode ser estudada no "efeito borboleta", que é a relação entre os fenômenos; ou na mais contemporânea "internet", que conectou pensamentos, ainda que em condições artificiais. O fato é que os seres humanos estão se preparando para essa conexão avançada, incondicional e universal. E assim, em suas individualidades, cooperarão para a igualdade criadora. Eu e o Pai somos um; seremos irmãos pelo mesmo Pai.

Ao determinar Jesus que somos uma família universal, que devemos nos conciliar com os inimigos, que não existe diferença na essência humano, embora diferenças nos fenômenos; disse-nos que os maiores problemas estariam resolvidos se amassemos uns aos outros, fraternalmente. Essa segunda proposta, que é a fraternidade; auxiliará na construção de uma ordem mais igualitária entre os homens, mesmo em suas aparentes diferenças.

A fraternidade aflorando e a igualdade, por meio do amor se equilibrar; haverá um outro campo de conceito complexo sendo harmonizado em nossas experiências humanas: a liberdade. É claro que não esmiuçarei a liberdade como ela merece, posto que o assunto requer tantos outros conceitos que não cabem aqui nesse texto. Mas uma coisa fica evidente: a liberdade é formada por escolhas; assim, quanto maior nossa visão sobre a vida humana e consequentemente tudo aquilo que permeia a existência, maior será as opções para a liberdade. A liberdade é maior quanto maior forem nossas opções, até se tornarem de tal forma incondicionais.

Exatamente por isso, quando temos o amparo das relações humanas, baseadas na relação do amor universal, teremos a verdadeira liberdade. Liberdade não é, portanto, fazer aquilo que se quer. Como Paulo de Tarso que disse: tudo posso, mas nem tudo convém; colocando frente a frente a liberdade real e a relativa. A liberdade relativa só terá o “caráter libertador” quando percebermos que nela há a submissão somente pela voz interior, ou como disse Ghandi, a “voz suave” (ou ditador interno). E Deus como “carta magna” transforma aquilo que parece impositivo, numa licença para viver, escolher e principalmente ser livre. A liberdade que parece relativa, em Deus, torna-se uma Liberdade Absoluta.

Assim, quando tomamos o Evangelho de Cristo como norte em nossas ações, teremos a metafísica do seu ensinamento moldando nossas ações; ou seja, seremos fraternos (Fraternidade) para criar a igualdade entre os homens (Igualdade) e faremos isso por nossa própria decisão (Liberdade). Tudo isso demonstra uma inversão não apenas dos valores, mas dos conceitos básicos apresentados na Revolução Francesa. Enquanto a Revolução de Cristo é fraterna, igualitária e libertária; com sua decisão pelo reino metafísico onde as pragas não corroem; a revolução burguesa dá a liberdade que se estabelece dentro de um jogo social, cria uma igualdade em oportunidades diferentes; mostra-nos que a fraternidade é o bem-estar reduzido ao pequeno número seleto de uma família ou comunidade.

Portanto, das duas revoluções, eu prefiro acreditar naquela que começa numa completa e irrestrita reforma íntima.



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sábado, outubro 22, 2016

Ansiedade


Parar.
Pegar o ar.
Ar que não se apega.
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Transfere, expulsa; vai
para onde quer, foge.
.
Por onde caminha a vida.
.
Quer ela não caminhe.
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Pare.
Pegue o ar..."

quinta-feira, outubro 06, 2016

DESCONECTADO: Geração “Voice” versus Geração “X”

 

Já revelei algumas vezes meu gosto pelos shows de calouros que andam povoando a televisão brasileira. Se eu conseguia me divertir com as bizarrices apresentadas na década de 80, entre a “doideira” e as “maluquices”, comandadas por Sílvio Santos e Chacrinha; imaginem só o que é um show de calouros com uma produção considerada mais profissional? Pois bem, dois desses programas, “The Voice” e “The X Factor”, são alvos de minhas considerações. 

Eu tentei assistir alguns episódios dos outros programas, mas nada que me levasse a fazer qualquer observação. Os dois grandes programas, se é que podemos catalogá-los desse modo, são exatamente os dois que estou comentando.

Bom, aos olhos não tão atentos, o programa apresentado pela Globo e o pela Bandeirantes parecem ter mais itens comuns que divergentes, que nos leva a crer estar assistindo o mesmo tipo de entretenimento. Mas, no fundo, eles têm pouco em comum. Mas são iguais quando nos falam sobre talentos, pois é certo que de ambos não sairá um grande sucesso da música. Não sairá um artista que será reconhecido nas ruas, enchendo casas de shows e vendendo milhares de Cds.  Mas qual o motivo? Eu digo: sucesso não se invoca em apresentações eliminatórias, nem são determinadas pela extensão vocal dos competidores; muito menos a boa disposição dos jurados. O sucesso tem elementos tão complexos que chega a ser muito difícil acertar, lá na fase embrionária, quais artistas valerão o investimento.

Assim, podemos dizer que, invariavelmente, os programas de calouros servem para divertir, ser uma opção para quem gosta de música, mas tem data de validade expressa em seu DNA.

Mesmo com esse item em comum, que é entreter o público, mas não criar um novo artista; ainda assim os dois programas juram sem dedos cruzados que dali sairão “as novas vozes do Brasil”. É claro que faz parte do show, nós, do lado de cá, ficarmos intimidados ao vermos lágrimas, desespero e quase um “fim de carreira” de um eliminado. Mesmo com toda aquela conversa de “você está pronto, não desista da música”; dito para dez de cada dez candidatos, sabemos que essa é a única “verdade” que podemos confiar: o fato de não ganhar poderá trazer mais sucesso na carreira do artista do que sua vitória.

Se o motivo velado dos programas é apenas a diversão, como se dá a escolha feita pelos jurados? Afinal de contas, ou eles acreditam na escolha como a voz que “encantará o Brasil”, ou escolhem apostas, considerando a simpatia, presença e palco e é claro, o talento. Se escolhem talentos, há algo de muito confuso nos dois programas: sem qualquer dúvida The Voice tem melhores participantes. A diferença é tão grande que vi dois ou três figuras carimbadas dispensadas pelo programa da Globo aceitas com louvor pelo programa da Band. Um programa é melhor que o outro? Tem critérios mais exigentes? Os jurados são melhores? Creio que não. Nesse momento surge a grande diferença entre os dois programas.

A postura diante do candidato é peça fundamental na diferenciação entre “The Voice” e “The X Factor”. A postura da Globo é acreditar que o candidato será um sucesso, que é possível. A Globo vende seu programa sem qualquer hipocrisia. Querem os melhores, se esforça para dizer que são os melhores; tudo fomentado por toda a megalomania das apresentações. Exatamente por isso é mais exigente na seleção, mais criteriosa no julgamento. Torce com todas as forças para que o melhor ganhe e faça sucesso.

Do lado da Bandeirantes ainda não vi esse tipo de seleção. Ela se esforça em dizer que o vitorioso terá um “x” do sucesso, mas, talvez, se preocupe com elementos que nada tem com a habilidade dos candidatos. Ela procura em seus participantes algo que que se valorize mais pelo aspecto humano do que a apresentação musical. O programa da Bandeirantes tenta se vangloriar em achar no candidato com “algo além da música”, “além da voz”; “algo escondido”. Esse algo é fácil aos ouvidos dos artistas, mas quase impossível ao ouvido do público comum. Por isso, no gosto popular, é mais fácil torcer por um candidato no The Voice, que apostar em alguém no The X Factor.


De qualquer modo, o lado lógico da Globo versus o lado romântico da Bandeirantes é o contraponto dos dois programas. Escolher qualquer candidato é mais que um tiro no escuro para ambos; embora seja divertido acharmos que estamos participando da revelação de um novo talento. A Globo pode acertar quando descobrir um candidato completo e a Bandeirantes quando descobrir um candidato que tem a essência artística, que nem ela sabe (ou pensa que sabe) exatamente o que é. 

A sorte, de qualquer forma, não tem que ajudar muito os dois programas, além de não desgrudar a cada eliminatória, dos candidatos.