quarta-feira, outubro 19, 2011

Numa dessas noites de chuva

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E te cobram, a densa força do pecado
um erro nada original, bastardo; penso.
Come a maçã, morde, assopra e beija:
A mulher dos seus dias, nua e verdadeira.
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Penetro, abstrato: nas ruas carros passam.
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É dia de chuva, mas a janela fica aberta.
Quem, em olhares santos; vê o que deve?
Cansada, fria; relaxa, mas nada devora:
Tantos homens e mulheres que passam.
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Eu me alojo. Eu me renovo; eu me desespero.
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É minha a sua mulher? Ou vice-versa?
De ninguém, ela repete a si mesmo
quando no espelho enfrenta o que sobrou.
E o pecado de ambos, num só recai:
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Cruz do choro, da solidão e de tristeza.
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O dia é de chuva, mas a janela fica aberta.
De ninguém, ela repete mais uma vez,
recebi qualquer beijo, de vingança ou ódio.
Eu me alojo. Eu me renovo. Ela se angustia.
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Mas seu choro não é remorso, é desespero.
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Em um cotidiano qualquer.

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A herança é o fim do mundo: o presente.
O que mais quer, desisto hoje, para sempre.
Vamos tomar uma bebida?
Seguro o copo com as duas mãos:
- A bebida está quente?
A vítima dorme nos meus braços, ainda.
O perfume de ontem, hoje cheiro insuportável.
Os cadáveres que abominam os abutres
apodrecem para o resto da vida.
Seu presente hoje: o fim do mundo.
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O mundo de hoje parece insuportável.
Desisto para sempre de tomar uma bebida.
Vamos falar sobre cinema?
Seguro seu braço com as duas mãos:
- Está indo embora?
O cadáver dorme nos meus braços, há vida.
Os abutres insuperáveis sobrevoam minha morte.
O fim do mundo, que resta do meu cheiro,
apodrece o que é o meu presente.
Vamos beber algo e esperar o fim do mundo?
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terça-feira, outubro 18, 2011

Flores do seu jardim

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Você não quer saber, mas sua frente,
flores em preto, jardim quase morto.
Ouço o som dos insetos, deteriorados;
querendo, o mais rápido, seu corpo.
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Tão vespas; moscas varejeiras:
Abelhas dos estrumes da vida.
E lótus negro de uma chuva densa.
Os corpos se lambuzam na lama.
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Olhe para mim: quer dizer algo?
A língua enrolada, enroscada; fútil.
Dizer algo não diz nada, quase sempre.
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E os bichos vão embora, cansados.
Do seu torso, infiltrado e enlameado.
O jardim morre, como num gozo, dócil.
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