terça-feira, junho 14, 2011

Eu silencio (O seu silêncio)

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Amante dócil das frases soltas:
Gosto de ti quando ri, solta.
Gosto mais quando não me ignora.
E me pergunta coisas fáceis,
e diz que é mentira quando absurdo
(mesmo o absurdo sendo verdade).
E repreende minha loucura,
e sorri da minha tristeza,
e me adverte sobre o caminho
(Não me quer louco, triste e perdido).
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Amante inexistente, eu andei pensando
em você muito perto, bem perto.
Vindo pelo corredor, entrando aqui
onde eu gosto de te ver (ler).
Não diria nada.
Também não há nada para dizer.
Talvez uma frase solta, sem sentido.
Nossa vida, ultimamente, tem mesmo
pouco sentido.
Um beijo tímido, outro não.
Iria rir também de ti e suas loucuras.
Viveríamos instantes,
o mínimo é o suficiente, sempre.
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Mas não me venha, amante;
dizer-me coisas indecentes.
Da minha razão pelas coisas,
da minha indecisão sobre a vida,
da minha ansiedade.
Não diga nada, por favor.
Quando não há nada a dizer.
Gosto quando não me ignora,
Amo quando não me condena.
E louco, perdido ou triste,
não importa;
quando sua frase solta,
não diz a nenhuma verdade.
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sexta-feira, junho 10, 2011

Sonho perigoso

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Hoje aquele sonho desprevenido.
Estava acordado, zonzo; febril.
Estava com fome, mas não era fome;
nem sede, nem tristeza; nem morte.
Não era nada me fazendo.
Não era sua mão; nem seu lábio.
Nem dinheiro. Nem carros buzinando
evitando meu atropelamento:
E os braços e pernas, quebrados;
enquanto sonhava.
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Sonho perigoso de sonhar acordado.
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Não era um pesadelo, visto acordado.
Era delírio das coisas no seu devido lugar.
Estava o caos, instaurado o caos.
Ruiva brancura da noite,
visita a cama; o doente; o febril.
Inconseqüente eu sonhava.
Não era a mão, nem os lábios;
nem a língua; nem os braços.
Era a grama molhada, impaciente.
O grama de barro atolado
no calçado, na calçada; eu correndo.
Petrificado, preso; sonhava.
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Sonho da vigília, do morto no caminho.
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E a escuridão dos dias, do andar corrido;
não me faz sonhar acordado, nem lábios.
Nem vida surgindo do barro, e a língua.
Era o caos decifrado, na brancura da vida;
da ruiva grama da noite; a minha fome.
A mão que aparece, no sonho acordado;
é minha mão vazia.
Não é lisa, nem dócil; nem quebrada.
Era a grama queimada, a febre.
Era a vida correndo solta;
a falta de censura; era o pesadelo.
Era a falta da vontade, do desejo.
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Sempre foi perigoso meu sonho acordado.
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quinta-feira, junho 09, 2011

Lugar Errado

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Impressão que tenho desse lugar ideal:
Estou preso e esquecido, enfim.
Tenho certeza que aqui o relógio erra.
E a passagem da vida muito mais.
Esse lugar, pintado em brasa;
É do meu inimigo da vida.
Dos tubarões famintos, mortos.
Do deserto sem grito, o frio.
Da floresta sem fome, quase extinta.
Onde tudo parece tão igual.
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Os dias são iguais, imensamente iguais.
Ontem e o hoje, conectados ou não.
A sucessão dos passos, de sonhos.
Invariável série de ações:
Dormir, acordar e morrer.
A continuação das coisas,
prosseguimento das dúvidas e
prolongamento da dor.
Onde tudo parece não ter fim.
Os dias que acabam em sua imensidão.
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Ontem e hoje, tão intensos.
Horas que viram noites e
sentimentos em solidão.
O lugar ideal, onde preso;
é o tempo que passa esquecido.
Dormir, morrer e acordar.
Numa continuação de dúvidas
Sobre a floresta ou o deserto;
Se vale a pena, onde tudo igual;
Esse lugar para continuar a viver.
Esse lugar que parece tão ideal.
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