sexta-feira, maio 27, 2011

A verdade curiosa da mentira

Ontem me deparei com uma questão curiosa. Na verdade é uma questão que há muito tempo vem intrigando o pensamento filosófico. Tudo começou quando li uma teoria sobre a mentira, que, resumidamente seria uma distorção da verdade. Dizia o texto que para conseguirmos maior eficiência da mentira era necessário conhecer primeiramente a verdade. O ruído da informação era a grande chave para uma boa mentira. Assim, a mentira é uma forma de interpretação enganosa de uma verdade.
.
No entanto, o texto não esclarece a tal questão que me pegou de surpresa: afinal o que é verdade? O problema não surgiu agora, mas é proposta desde o surgimento do pensamento filosófico, lá no longínquo mundo helênico. Dentro das inúmeras teses, dos infinitos devaneios; eis que surge a descoberta fundamental; um parecer sobre o caminho da verdade: o homem é a medida de todas as coisas!
.
Considerando que correta a interpretação, devemos supor que a verdade nada mais é do que uma visão subjetiva das coisas reais. A realidade é; enquanto a verdade apenas existe. A realidade é abstrata, eterna, objetiva e completa. A verdade é a interpretação, a leitura; a manifestação do que nós, como seres humanos, conhecemos da realidade. Todavia, esse conhecimento é fragmentado e, muitas vezes distorcido. A verdade é momento em que nos aproximamos da realidade, mas em si; apenas é sua resolução; mas não a correta manifestação da existência.
.
Como relativista de carteirinha, apresentada sempre que entro numa discussão; devo dizer que acredito que realidade seja absoluta, mas não na verdade. A verdade, em seu caráter universal, é sempre relativa. Quanto mais suposição da verdade se aproximar da realidade, maior será sua correlação com o que é real. O inverso, quanto mais uma verdade sair do centro da realidade, de sua órbita; menos real ela será; portanto será a mentira. É nesse ponto que acredito na teorização de que a mentira só é possível pelo prévio conhecimento da verdade. Só podemos supor o irreal quando nos deparamos com o real; mesmo que precariamente.
.
A história ainda diz mais sobre a verdade, ou sobre seu conceito. Lá pelos lados da Judéia, a verdade é posta numa discussão entre Pilatos e o filósofo Nazareno. O que é a verdade, pergunta o poderio humano do romano na virtude do poderio metafísico do profeta. A resposta não existe, simplesmente. A resposta é que o conhecimento da verdade é a chave da libertação. O que vale a definição de que a mentira, portanto aprisiona. Conheça a verdade e ela o libertará; conheça a si mesmo, nos Delfos. O homem continua sendo a medida de todas as coisas.
.
A iluminação dos tempos modernos trouxe a definição da verdade como o observável, aquilo que pode ser conduzido, repetido e analisado. O positivismo da verdade descobre as coisas pelo que elas não podem ser; não o que elas realmente são. A verdade do que é “água” é a manifestação lógica de que ela não pode “fogo”, por exemplo. Conhecemos a água em sua formulação, e isso para a ciência do nosso tempo, basta como verdadeiro. Mas mensurar a água pelos elementos de sua composição é a pueril verdade relativa do concreto; mas não a maturidade absoluta do abstrato. A água pode ser vapor, pode apagar o fogo. O conceito da água é superior ao elemento químico.
.
Mas é correto que a parte conhecida da “água”, o seu elemento químico, aproxima-se da realidade, assim se tornando uma verdade relativa a uma mentira relativa. Ao sentenciarmos que o fogo e a água são a mesma coisa, estamos nos aproximamos de uma irreal observação de elementos conhecidos, saindo do centro da realidade e nos prendendo aos fios estática mentira. Assim a verdade, ou o conhecimento relativo da verdade, é a única maneira da verdadeira libertação.
.
A conclusão da mentira é que ela é tão verdadeira como a própria verdade, mas existe uma diferença básica entre as suas opiniões, ou seja, nossa subjetiva interpretação do que é objetivo. Enquanto aquela se aproxima da realidade, atingindo a liberdade e a universo da existência dos seres, esta aprisiona no isolamento egocêntrico do pensamento humano.
.
.