quarta-feira, março 31, 2010

Céu Negro

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Tenho medo, minha senhora.
Medo das veias em tempestade.
Medo dessa linha do horizonte,
Ser a linha do coração parado.
E a pretidão que me consome,
São olhos fechados da morte.
Minha senhora, meus amigos,
perdoem-me.
Meus objetos, meus amores,
esqueçam-me.
Pois tenho medo, minha morte.
Da tempestade do horizonte;
Que jorra sangue pelos olhos,
E sofrimento pela boca.
Tenho medo de quem vem dali.
Ao longe dos nossos olhos:
São seres que criamos,
Ou que nos criaram infames?
E ao longe, nesse dia feio,
Nasce do sangue do arrependimento.
Tenho medo, minha senhora,
Que os remédios sem efeito,
Sejam tão doces e amáveis
Como a linha do horizonte, agora
Vermelho como a cura;
E culpa de um céu negro
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Texto publicado no blog http:\\vozecor.blogspot.com em 23/03/2010.

sábado, março 27, 2010

Novo Texto

Novo texto no Informação Virtual.

www.informacaovirtual.com

Coluna DESCONECTADO

sábado, março 13, 2010

Introdução O CADÁVER VEIO ANDANDO

O CADÁVER VEIO ANDANDO


Introdução

O acaso pode nos ajudar em muitas coisas: mas o que dizer do acaso que ajuda desvendar um crime? A história de amor, traição e ódio. Uma história que revela que as situações do mundo não são aleatórias, que as coisas não acontecem fortuitamente.

Em O CADÁVER VEIO ANDANDO, você vão ver uma situação interessante das coincidências da vida, e como isso pode alterar a vida de uma pessoa; principalmente quando se trata de um criminoso.

Boa leitura!!

Sérgio Oliveira

Veja também:


http://folhetimhojeevinte.blogspot.com
http://patativadabola.blogspot.com
http://vozecor.blogspot.com/




O CADÁVER VEIO ANDANDO


(01)

São duas horas da manhã. Sinto sono, mas não consigo dormir. Sempre sofri com insônia e tudo anda piorando nos últimos anos. Sinto-me nostálgico também. Eu era feliz com alguma coisa do passado que eu não sei bem o que é. Apenas sinto que a história, que ficou lá para trás; é um pouco melhor do que a que estou vivendo agora. E possivelmente melhor do que viverei amanhã. Estou deitado na cama, não faz calor nem frio. É uma noite morna, de sensações mornas e de vontade morna. O tempo não me incomoda naquele momento.

A janela do meu quarto estava aberta. Gosto de ouvir o barulho da rua. Nesses momentos sei que ainda estou vivo. Um carro passa, outro. Um carro passa pela poça de água suja. Havia chovido forte agora pouco. Parou de chover e as pessoas lentamente começam a circular pelas calçadas. Odeio o barulho das pessoas, mas eu sei que elas são importantes. O tempo ainda: caminhando lentamente. Pego o livro que está na cabeceira. Precisava terminá-lo antes que eu morresse. Estou pensando na morte, em como as coisas podem acontecer de repente. Quem contaria minha história? Jornais costumam noticiar os infelizes solitários. Eu sou uma história.

Estou no décimo quinto andar. Daqui tenho uma privilegiada visão: mulheres andam quase nuas de madrugada. Os bares lotados e seus bêbados incorrigíveis. Dá para ver um teatro; que tem algumas apresentações amadoras, desinteressantes e chatas. Da sala posso ver a avenida principal, que não para nunca. Dá para ver assaltos e atropelamentos. Mas nada me diverte tanto quanto ver o horizonte, longe e cinzento. Ver quando chega o temporal de fim de tarde e suas negras nuvens, como se fosse o final dos tempos. Nessa hora torço para que buraco negro, ou um asteróide descontrolado, leve todos os pecados da humanidade; principalmente os meus.

Não consigo o sono. Cada vez fica mais difícil. O barulho vai diminuindo, como se a vida fosse se desfazendo aos poucos. E a vida ou meus sentidos que se foram? O silêncio, a escuridão. Grito para ouvir minha voz, para ouvir o que o eco me diz. Grito para romper a mesmice das cenas diárias e medíocres. Um grito abafado, de dor da solidão. Um grito de palavras sem sentido, como grunhido ou qualquer bicho na jaula. Como animais indo, conscientes, para o abatedouro. Sinto o grito saindo da minha boca como se odiasse a mim mesmo e as pessoas que pudessem escutá-lo. Não há libertação, apenas o transtorno de saber que tudo é realidade. Deito e durmo, angustiado. A síndrome da culpa.

A luz do sol bate em meus pés. Não faço idéia das horas. Escuto passos na cozinha. Minha cabeça pesa, dói. Tenho uma sensação terrível de ressaca, como se tivesse comido e bebido a noite inteira. Lembrei-me que mal jantei e que não bebi nada durante o dia inteiro. Meus pés estão dormentes, assim como meu braço direito. O relógio aperta meu pulso. Tento me levantar, não consigo. O barulho na casa aumenta, escuto passos vindo para o meu quarto. Há muito tempo ninguém me prepara café da manhã. Quem eu trouxe para cá? Deixei a porta do apartamento aberta? Os passos continuam, seguros e firmes, vindo em minha direção.

Agora não escuto o som da cidade. São muitos barulhos embaralhados: carros, ônibus e motos. As pessoas podem trocar confidências, revelar algum crime ou simplesmente manter-se em silêncio; ninguém consegue percebê-las ou ouvi-las. Nunca iremos saber o que sai da boca de alguém daqui de cima. Da janela não vejo mais as mulheres quase nuas e os bêbados descontrolados: buraco negro e asteróides. Meu pecado continua intacto, sem precedente.

A vida continua morna.



(CONTINUA....)

Arrogantes..

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Às vezes, quando encontro os desiguais,
Tenho vontade de ser um deles, tão iguais:
Arrogantes, mentirosos, quase humanos.
São, em resumo arbitrário; tão pobres.
Folgados, espaçosos, preguiçosos.
Tenho vontade de ser igual a eles.

O sonho, de repente, vira pesadelo.

Na mesquinharia, guardando o que sobra.
Eles, tão iguais, não são mais pobres:
Mas continuam arrogantes, mentirosos.
Mais humanos seriam sem a luxúria.
Presunçosos, mentem pelo poder.
E no medo, matam pelo poder.
Isolam-se.

De repente o sonho vira pesadelo.

Eles tão iguais, são tão diferentes:
Mas todos são quase humanos.
A perfeição, para eles, seria a derrota.
O fragmento, a perda, a falta, a ruína,
O estrago, a doença e enfim a morte.

De repente seremos todos iguais.




(Texto publicado originalmente em 11/03/2009)
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quinta-feira, março 11, 2010

A questão do tempo

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E os números que correm,
nessas vagas horas, sem nada.
Em volta, assombros; dúvidas.
Que rosto encontrar, no final das contas?
O amor que você queria se foi.
A paixão que concordava se foi.
E se foi?
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Os dias, no tempo parado,
São as paredes perdendo as cores,
Perdendo as cascas, como árvores
velhas e terrivelmente abandonadas.
E se foi?
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Vague no tempo, incerto do tempo.
Paixão que vai, volta jamais?
E que rosto encontrar no final do tempo?
Que som ouvir? Que resposta encontrar?
E os números correm, nos ponteiros velhos
Como coisa abandonada,
Aquele retrato rasgado, nas rugas do ódio
Da sofreguidão e do desespero.
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Retrato feliz, que anda parado; com o tempo.
Parado no sorriso, no enrosco;
Nas bobagens de enamorados, nos sonhos.
Não há mais sonho?
Ele se foi? E se foi?
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Que amor encontrar no final das contas?
Que paixão define a perda de tempo?
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segunda-feira, março 08, 2010

Hoje

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Hoje não quero nada.
Resumir-me em poucas palavras.
É o que quero hoje.
Sou pouco, quase nada.
Sou esse calor.
A ameaça da chuva.
Hoje quero dormir,
E acordar qualquer dia,
Menos que seja hoje;
com essas sensações,
essa coisa horrorosa.
Tenho medo, hoje.
Que não sou nada.
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Hoje não quero resumo.
Nada em poucas palavras.
Quero transbordar tudo.
A ameaça da tempestade.
Hoje eu quero romper
essa frustração da vida:
Hoje eu quero acordar,
com sensações, mesmo
horrorosas, doloridas;
fúteis.
Quero a intensidade
do sentimento.
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Mas hoje eu não quero nada.
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