segunda-feira, abril 27, 2009

Cartas ao vento 023

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Arrumei um inimigo, nessas minhas andanças virtuais. Ele disse que me odeia. Eu não sei de onde ele surgiu, nem sei bem como tudo começou. Só sei que ele não existe de verdade. Mas me odeia. Ele disse mais: que sou preconceituoso, machista e quase um ateu. Falar que eu sou quase um ateu foi fantástico, afinal é o único conceito que eu não sei o significado: acredito mais ou menos em Deus?

Disse a ele que as picuinhas religiosas não fazem parte da minha paixão por literatura, e que, sequer de maneira desinteressada, fiz alguma ofensa a qualquer crença. Só disse que quem crê, não sabe. Mas isso não tem nada haver com religião, mas sim filosofia.

Acreditar não é tão importante quanto saber.

Pois bem, ele não entendeu direito o que eu estava querendo dizer. Que fique assim mesmo: ele acreditando e eu sabendo. Afinal, os inimigos ocultos só podem ser levados a sério quando estão escondidos, maquiados em fantasias desconhecidas; ou mesmo quando são inventados, com medo da própria verdade. Quando eles aparecem, tornando-se verdadeiros, deixam de ser inimigos para virarem nosso opositor.

O milagre do conhecimento, o opositor: pois não há filosofia sem contestação.
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quarta-feira, abril 08, 2009

Na Janela

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Vi mais uma vez.
Pensei que nunca mais apareceria
feliz na minha janela.
Ando triste ultimamente,
preciso de alguém que me ouça.

Nunca responde nada.

Vai embora.
Eu ainda insisto em esperar esse momento.
Feliz, na minha janela.
Ando triste ultimamente,
sem ter o que olhar pela paisagem.

Não vejo nada.

Aparece mais uma vez.
Não quer ficar, eu sei disso.
Não precisa ficar para ouvir
as mesmas coisas de sempre.

Por isso não digo nada.

(2006)

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sexta-feira, abril 03, 2009

Desespero

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Tenha cuidado comigo, ando desesperado.
Um medo qualquer, uma loucura,
uma cara feia querendo me dizer algo.
É motivo absurdo de sangue
pelas têmporas.

Ando reflexivo, o mundo abismado.
Um sonho qualquer me acorda,
uma carta cheia de absurdos,
qualquer um querendo me dizer algo.
É motivo infiel de desatino.

Tenha muito cuidado comigo!
Hoje não me reconheço no meio dos
malditos. Mas não sou nenhum deles.
Uma cara feia, cuspindo ódio
sangue e grosseria.

Tenho morrido,
cruelmente assassinado.

(2006)
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Cartas ao vento 022

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Vou escrever uma carta: Mas não se surpreendam se não recebê-la. Ela nascerá para ficar guardada. Geralmente todas as cartas ficam guardadas, essa em especial. Caso soubessem seu conteúdo, nada representaria também. Por conseguinte, guardada ou não, terá o mesmo valor.

A carta terá um formato único, como são todas as cartas comuns. As cartas de amor são diferentes em seus termos, mas também não tem préstimo algum. A carta, como qualquer carta, é sua cabeça em idéias, decepada em alguns instantes, rolando ladeira abaixo. O fim de toda carta é a sarjeta. Carta, ratos e o cheiro ruim do esgoto são coisas muito parecidas.

Na carta eu quero dizer qualquer tolice. Se quisesse usar a verdade, usaria outros meios. Tantos outros meios disponíveis. A carta de hoje, pelo que anda acontecendo, será uma carta guardada na memória como coisa ruim, dos meus péssimos dias, que deveriam ser esquecidos. Por algum motivo que ninguém conhece, a carta ficaria comigo mesmo que eu não tivesse escrito. Ela faz parte de mim, em todas suas letras.

Então, guardadas seriam endereçadas ao nada. Um objetivo excluso e indeterminado. Você receberia a carta e a leria como qualquer artigo de jornal, revista ou bula de remédio. Jogaria num canto qualquer. Pensaria, em momentos, que tudo que ali estava escrito não era para você. Mesmo que saísse a carta do lugar incomum da minha mente, alguém que a recebesse, a transformaria em coisa insignificante. A carta me representaria em todos os instantes.

E todos que a recebessem, continuariam me ignorando.
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