sábado, setembro 27, 2008

Cartas ao Vento - 012

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Dizem que sempre devemos estar preparados para o melhor, mas que devemos nos planejar para o pior. Concordo com a afirmação, ainda mais quando o assunto é a vida. Não que eu esteja numa situação ruim, mas ficou evidente que alguma coisa não andava boa uns tempos atrás. Parece que nossa vida sempre é essa roleta, uma hora roda de um lado, noutras não. Uma hora nos leva para cima, na outra para baixo. Somos pisoteados, às vezes pisamos. O meio termo não existe, o que existe é somente a aletoriedade.

A palavra existe, podem procurar. O que eu não entendo é como até agora nunca ninguém percebeu que ela faz parte de nossa existência. Assim como a relatividade, aletoriedade se tornará algo filosófico daqui algum tempo. “Ei você, já se sentiu atingindo pela aletoriedade?”. “Já, claro. Ontem mesmo estava com dor de cabeça, hoje não sinto mais nada”. Isso, meus caros, é a aletoriedade.

Mas qual o motivo de dizer isso? Querer explicar uma coisa tão grandiosa em tão poucas palavras? Mais uma vez recorro ao que estava dizendo, sobre as coisas serem aleatórias. Ontem mesmo tinha várias idéias sobre esse negócio, de casualidade, de coisas incertas que acontecem em nossa vida. Mas hoje, perdi a história.

Tudo bem, quem sabe a carta 13 seja melhor. Quem sabe não exista a carta 13. Vai saber, nesse mundo de aletoriedade nem sempre as coisas acontecem como queremos. Não gostou da carta de hoje?

Isso é explicado pela relatividade.


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Economia: Uma caixa de surpresas

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Já foi o tempo que o futebol era a ciência inexata. Agora todos querem o mérito da imprevisibilidade. Os economistas estão eufóricos com tudo que está acontecendo no mundo. Dizem não saber direito os motivos e as conseqüências da crise americana. Só conseguem ser unânimes quando dizem que isso nunca aconteceu no mundo. Nem mesmo a comparação com a crise de 29 pode ser colocada em evidência, já que os fatores eminentes da economia são outros completamente diferentes.

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Há, no entanto, uma tentativa de explicação teórica para os acontecimentos; e mais do que isso, uma tentativa de mostrar qual é o melhor remédio para a crise.

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Durante anos e anos notou-se uma absurda descaracterização do Estado como um agente da economia. Foi propagado o pensamento de que o Estado só é bom quando é ausente, e que a economia tinha mecanismos de autodefesa, regulando toda e qualquer movimentação contrária à saúde das empresas, famílias e riquezas.

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Não foi o que vimos no maior Estado capitalista do mundo. Foi lá que a bolha imobiliária estourou e foi lá que keynesianismo foi retomado. Sem menor pudor, como se tudo que andaram falando tempos atrás não tivesse importância. Sim, no maior país capitalista do mundo, onde o Estado deveria ser coadjuvante esquecido nos letreiros finais do filme, ele aparece como grande herói com poderes de capitalizar os podres e salvar os ricos.

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Ninguém sabe qual o custo dessa ajuda, já que os pagadores ainda não sentiram no bolso qualquer diferença. É certo que o Estado quando faz, não pede. E era preciso fazer alguma coisa para que a quebradeira não fosse maior, assustando não só os bolsos dos americanos como de tantos outros contribuintes. Os americanos foram felicitados com a economia de quase duas décadas, não há mal nenhum em perder um pouco do rico dinheiro.

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Mas como foi comentado no início do texto, nem os economistas sabem direito se a medida americana trará resultado positivo. Ninguém entende direito a mobilidade do mercado, que gira entre ambição e o temor. Quanto mais se tem medo, mais se pode ganhar. Quem não quer sofrer engole papéis de ganhos de menos de um por cento e ficam quietos. Às vezes aplaudindo a ida e vinda do dinheiro nos papéis fortes.

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O Estado botou a mão de ferro na economia, onde ninguém pensava que o Estado poderia fazer esse papel. Comprou a dívida de alguns para outros não quebrarem. Deu um recado ao mundo, dizendo que não se move enquanto não é preciso, mas se precisarem do Estado, ele estará lá.

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Enfim, para alguns economistas, mais do que uma situação histórica, os acontecimentos de agora servirão para revelar uma única coisa, que todos aceitam como verdade absoluta: a economia é a mais previsível ciência das ciências imprevisíveis. Afinal, para que serve a economia então?

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Para dizer que todos os economistas estão certos.

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sexta-feira, setembro 19, 2008

Carta 011

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Fui convidado para o Fórum Social da Cultura que pretende ser um ponto de referência para pesquisa sobre a cultura. Livros, cinema e música entrarão em pauta, como itens importantes. Devo confessar que gostaria de ser essa referência, mas não sou. O convite, portanto, é inútil. Não sou bom para mim, o que dizer para os outros? Tudo bem, aceitarei assim mesmo. Talvez consiga acrescentar alguma coisa, mesmo sem saber.
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E acho que minha primeira sugestão para o Fórum deve ser mesmo uma pergunta ao invés de uma afirmação. Afinal, mais do que dizer o que penso, e qual minha opinião sobre como melhorar a cultura, devemos mesmo é observar o conceito de cultura. Afinal o que é cultura? Por uma questão prática decidi procurar sobre cultura na internet. Alguns filósofos, estudiosos e intelectuais ficam com os cabelos alvoroçados quando falamos a palavra internet, principalmente quando dizemos que ali fomos buscar informações sobre cultura. Fiquem mais espantados ainda, pois fui buscar o conceito na Wikipedia. Sério, não é brincadeira. Foi ali que decidi buscar informação.
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Numa época passada eu ficaria espantado com isso, pois considerava uma enciclopédia onde todos pudessem palpitar uma coisa ultrajante. Meu maior espanto agora é saber que lá posso encontrar alguns conceitos formados, pesquisados; de pessoas conhecedoras do assunto. Eu mesmo quase palpitei sobre ética, e antes disso acontecer, alguém mais sábio do que eu, fez a devida correção. Maravilhoso mundo do conhecimento onde conhecer ou não é mero detalhe!
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E participarei do Fórum com esse lema, conhecendo ou não, pretendo ser referência. Ou não.
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terça-feira, setembro 16, 2008

Cartas ao Vento - 010

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Férias! Primeiras férias em muitos anos. Não pensem que quero o frescor do mato, nem o calor da praia. Nem pássaros cantando no final da noite. Quero ficar exatamente onde estou, para me localizar melhor, e quem sabe interferir um pouco no meu plano perfeito. Que não anda sendo tão perfeito assim. Algumas coisas não andam bem, nesse meu plano. Outras coisas saíram melhor do que minhas expectativas.
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Nesse meu plano perfeito, que todos nós temos; itens que pareciam bobos e chatos, dos quais eu sempre deixei de lado, permitindo-me um menor aborrecimento diante da vida; estão agora na minha porta, pedindo minha presença. Eu que deixei, por consciência, alguns itens de lado, nesse meu plano perfeito, percebo que posso ser derrotado, por essas coisas antes ignoradas. Pontos positivos, do meu plano perfeito, que são família, amigos e ideais; continuam intactos, mostrando que meu plano pode mesmo ser perfeito.
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Minhas férias de poucos dias, merecidas eu acho. Ficarei olhando retratos na parede, percebendo que o plano perfeito, pode mesmo ser tão perfeito. Mesmo com tantos itens de plano imperfeito.
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quinta-feira, setembro 11, 2008

Setembro

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Quando setembro,
vozes doces
chegarão em desespero.
E o vento,
que faz silêncio,
desdobrará em flores,
mortas.
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Onde as almas perdidas renascerão.
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Lendo em lápides
o agradecimento vão.
Farão histórias,
as almas quietas,
Quando decidirem não mais
a solidão.
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Em setembro,
a chuva que cai contínua,
Numa negridão desorientada
Faz perder os caminhos
da luta Pela carne, em desatino.
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Mostrarão as almas
de onde saíram perdidas.
Caminhando pela Lua,
E lobos resmungando fome.
E Mulheres,
entregando-se na imensidão.
Quando setembro,
os caminhos longos se acalmarem.
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Quando setembro,
doces vozes
Em desespero gritarão seu nome.
E o vento levará o recado,
em silêncio.
Os mortos enterrarão as flores,
as almas que nasceram perdidas,
buscarão abrigo.
Na lápide, no desdobramento
e a penitência de quem parte.
Em setembro.
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Mostrará apenas um caminho que percorrermos.
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